Transplante de Órgãos

TIPOS DE TRANSPLANTES

                Os transplantes de órgãos e enxertos podem ser definidos pela origem do órgão recebido. Podem ser, autólogos quando o tecido ou órgão é transplantado para o mesmo indivíduo; isólogos, quando o transplante provem de um gêmeo idêntico; homólogos, quando o transplante é entre indivíduos diferentes, porém da mesma espécie; e heterólogos, quando são espécies diferentes.
                Os transplantes autólogos e isólogos pegam com facilidade, desde que se estabeleça uma circulação sanguínea eficiente. Nesses casos os riscos de rejeição são nulos, pois as células transplantadas são geneticamente semelhantes às do receptor e apresentam os mesmos MHCs* em suas superfícies. O organismo reconhece as células transferidas como sendo iguais às suas (mesmos MHCs) e, portanto, não desenvolve uma resposta imunitária (causando a rejeição).
                Já nos transplantes homólogos e heterólogos a rejeição poderá acontecer, pois eles contêm células cujas membranas contêm MHC I que é estranho ao hospedeiro, visto que nesses tipos de transplantes o órgão vem de terceiros. A rejeição dos transplantes deve-se principalmente à atividade dos linfócitos NK (Natural Killer) e citóxicos, que penetram o transplante e destroem suas células.

TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS

                O transplante de órgãos é um fator determinante de continuidade da vida para algumas pessoas. Existem milhões de pessoas necessitando de um transplante, e com essa demora sonhos acabam entrando na fila de espera só aguardando o momento tão esperado de retomar a vida.  


História

                No século II A.C., na Índia houve o primeiro relato de um transplante de órgão, que neste caso se tratava de transplantar a pele de uma região do corpo para outra como tratamento de queimaduras e feridas graves(enxerto).
O transplante de órgãos entre indivíduos diferentes só foi possível a partir do século XX, depois de muitos fracassos. Neste caso o sucesso se deu em 1954 nos E.U.A., com um transplante renal, realizado ente irmão gêmeos idênticos (isólogos).
Nesta época já se sabia que o sistema imune impedia a troca de órgãos entre seres, e a inexistência de protocolos de drogas imunossupressoras limitava os transplante à aqueles que possuíam irmãos gêmeos. Como se sabe, gêmeos idênticos são geneticamente iguais, assim como um clone.Na mesma década de 1950, duas novas drogas imunossupressoras foram descobertas. Os corticóides (cortisona) e a azatioprina passaram a ser usadas, abrindo espaço para a evolução do transplante entre indivíduos diferentes.


Rejeição

Nosso sistema imune é programado, desde a época embrionária, para diferenciar os genes de nossas células dos genes de organismos invasores. O nosso corpo não sabe distinguir o que é perigoso do que benéfico, por isso, se comporta da mesma maneira com um órgão transplantado ou com uma bactéria. Ele apenas ataca tudo que por ele não é reconhecido.
Existe um grupo de genes nos humanos, chamado de HLA, que são os responsáveis por essa diferenciação entre o que é nosso e o que é estranho. É como se esses genes colocassem um identificação com foto em todas as nossas células.
Toda vez que uma célula de defesa circulante no sangue (glóbulos brancos) encontra uma célula com a identificação diferente, soa um alarme no sistema imune que convoca outros glóbulos brancos para atacar e destruir este ser invasor.
A chamada rejeição do transplante nada mais é do que nosso sistema de defesa destruindo um órgão transplantado. Para o nosso sistema imune, aquele rim ou coração transplantados, são um conjunto de células invasoras que podem estar colocando nossa vida em risco. A ordem é simples: destruir tudo que for diferente ao que existia quando nascemos.
Todos os doentes transplantados, portanto, precisam ser medicados com drogas que inibam nosso sistema imune. As drogas basicamente deixam as células de defesa confusas. Elas olham um "crachá" diferente mas não notam a diferença, ou notam mas não conseguem convocar reforços para atacar o invasor.
Isso é muito bom para o órgão transplantado, mas é péssimo caso aconteça uma invasão por bactérias ou vírus. O desafio da medicina é impedir a rejeição do órgão sem atrapalhar o sistema de defesa contra germes invasores. Por isso, o transplante é um procedimento extremamente complexo.
As drogas atuais agem no sistema de defesa, mas não consegue enganá-lo por muito tempo. O processo de rejeição é lentificado, mas sempre ocorre. Até o final da década de 80, a maioria dos pacientes perdia o órgão transplantado com 1 ano. Hoje em dia, um transplante é considerado um sucesso se durar pelo menos 10 anos. Existem casos de pessoas com até 30 anos de transplante.
Medicação “anti-rejeição”(imunossupressor)

Quanto mais parecido geneticamente forem o doador e o receptor, menos drogas serão necessárias e mais tempo o órgão transplantado costuma durar. Receber um órgão de um irmão, mesmo que não gêmeo, é melhor do receber um órgão de um pai, que é muito melhor que receber um órgão de um primo, que por sua vez é melhor que receber um órgão de uma pessoa sem nenhuma relação familiar. Quanto mais distante geneticamente for o doador do receptor, mais intensa é a resposta imune.
O objectivo da terapia imunossupressora após a transplantação é prevenir o reconhecimento do alograft como non-self e a subsequente destruição dos tecidos transplantados. Actualmente, são usados quatro grandes grupos de terapias imunossupressoras gerais: antimetabólitos, corticosteróides, metabólitos fúngicos e radiação X. Outros tratamentos mais específicos envolvem anticorpos monoclonais e o bloqueio dos sinais co-estimulatórios de linfócitos específicos. Contrariamente às terapias gerais, estas não comprometem tanto o estado imunitário do paciente, visto que não afectam o sistema imune na sua globalidade. Idealmente, o necessário seria um imunossupressor específico para um antigénio que reduzisse a resposta imunitária aos aloantigénios do transplante, enquanto preservasse a capacidade de resposta a outros antigénios.Outra terapia que poderá ter um carácter mais ou menos específico é a terapia antilinfócito, que poderá utilizar anticorpos policlonais ou monoclonais.


O Transplante

O doado poderá estar vivo ou morto. No caso de pacientes vivos o receptor não precisa esperar na fila, ele é feito assim que se consegue um doador voluntário e após todos os exames pré-operatórios estarem prontos. Muitas vezes um paciente a espera do transplante tem vários doadores na família. O que fazemos é mapear geneticamente todos eles, e ao final, aquele potencial doador que for geneticamente mais parecido como receptor será o doador preferencial. Se por algum motivo aquele doador preferencial tiver algum problema e não possa doar, passamos para o segundo mais compatível, e assim por diante.
Quando o paciente não tem doadores voluntários ou quando o transplante é de algum órgão que não permita a doação em vida, o processo é diferente. Enquanto que no transplante entre vivos escolhe-se o doador, no transplante cadavérico, quem é escolhido é o receptor.Todos os pacientes que encontram-se na fila de transplante passam pelo mapeamento do HLA. Seus dados ficam em um rede informatizada controlada pela instituição responsável pelo transplante de órgãos. Quando há confirmação de morte cerebral de um potencial doador, a equipe de transplante é acionada para fazer o mapeamento genético deste doador cadáver. Este HLA é então jogado no banco de dados informatizado que automaticamente seleciona entre todos na fila, aquele que é geneticamente mais parecido com o doador falecido. Neste momento o doente escolhido recebe uma ligação do centro de transplante informando que ele será transplantado nas próximas horas.
Existe ainda um exame chamado de teste de compatibilidade ou "cross-match". Mistura-se o sangue do doador com o do receptor para ver se alguma reação que indique a presença de anticorpos pré-formados contra as células do doador. A presença destes anticorpos contra-indica o transplante com esse doador sob o risco de uma rejeição fulminante, não importando o quão semelhante é o HLA.


Órgãos e tecidos mais usados para transplante 

- Coração
- Pulmões
- Rins
- Pâncreas
- Fígado
- Intestino
- Estômago
- Pele
- Córnea
- Medula óssea
- Ossos



Finalizações

Mesmo tudo dando certo para que o transplante realmente aconteça ainda é necessário vencer a corrida contra o tempo, pois após a morte encefálica os órgãos têm uma sobrevida muito pequena fora do organismo. O coração e o pulmão, por exemplo, são os que menos podem esperar. O intervalo máximo entre a retirada e a doação não deve exceder quatro horas. O fígado resiste até 24 horas fora do organismo. O rim é um órgão bastante resistente, pois pode esperar de 24 a 48 horas. O Pâncreas como no caso do coração e do pulmão deve ser transplantado quase simultaneamente. A córnea pode permanecer até sete dias, desde que mantida em condições apropriadas. Ainda se não bastassem os próprios problemas do transplante ainda há o medo de ser doador diante de tantas incertezas, fora os mitos que circulam esse assunto, tais como o mercado negro do transplante.                              
               


*MHC (do inglês major histocompatibility complex) (Thorsby, 1974) – Complexo de genes vertebrados, que codificam para uma grande família de proteínas da superfície celular, as quais se ligam a fragmentos de peptídeos de proteínas estranhas e apresentam estes fragmentos aos linfócitos T para induzir uma resposta imune. O MHC de classe I são constituídos por um polipeptídeo associado à ��–microglobulina. O MHC de classe II é constituído por dois polipeptídeos que estão associados de forma covalente. (http://www.asmabronquica.com.br/medical/glossario.html#Mac-1)


Referências

Histologia Básica Junqueira e Carneiro